A artista Emy Santos foi selecionada e vai receber uma bolsa pela Funarte para representar o Brasil na França no edital Bolsa Funarte Brasil Conexões Internacionais 2025 – Temporada Cultural Brasil-França. A Bolsa é para a participação de jovens criadores no Festival OFF Avignon e na Bienal de dança de Lyon. Emy foi selecionada para a área de teatro.
Foram inscritos 143 projetos para participação de jovens criadores no Festival OFF Avignon e na Bienal de Dança de Lyon, com viagens previstas para julho e setembro. Deste total, 124 propostas foram aptas a serem avaliadas, representando 86,71% das propostas. Das 20 propostas contempladas, 17 (15,45%) correspondem a Proponentes pessoas físicas, enquanto 3 (9,09%) correspondem a Proponentes com constituição jurídica. O aporte total é de R$ 320 mil.
A chamada convoca jovens criadores(as) brasileiros que atuem nos segmentos do Teatro e da Dança para participação no Festival OFF Avignon e na Bienal da Dança de Lyon, respectivamente, compondo as comitivas brasileiras e contribuindo para fortalecer os laços do Brasil com a França, fazendo mover outros imaginários em torno da potência criativa, da riqueza e da diversidade dos nossos povos.
O apoio financeiro é individual e o valor da bolsa para a categoria de teatro é de R$ 15 mil. O valor da bolsa contempla despesas com passagens aéreas, seguro viagem, diárias de hospedagem, alimentação, ingressos para espetáculos, cinco ingressos para workshops e apresentações/desenvolvimento de performances curtas.
A Temporada Cultural Brasil – França é organizada pelo Instituto Guimarães Rosa e pelo Institut Français (Paris), em estreita colaboração com a Embaixada do Brasil na França e a Embaixada da França no Brasil, e coordenada pelos Ministérios das Relações Exteriores e da Cultura da França e do Brasil.
Emy Santos vai representar o Centro-Oeste, na categoria do teatro. “De Mato Grosso do Sul, eu sou a única representante nesse edital da Funarte de teatro. E eu fui selecionada pra fazer esse intercâmbio e ganhei essa bolsa, né, com tudo pago, ajuda de custo, passagem, hospedagem, pra vivenciar e fazer essas conexões entre Brasil e França. E logo após que eu voltar da França, eu vou desenvolver um projeto, no qual eu vou receber apoio da Fundação de Cultura pra desenvolvimento desse projeto, que é compartilhar os saberes, as trocas, os conhecimentos que foram adquiridos durante essa viagem. Então, é justamente ir lá, contribuir, né, com o festival, com o meu trabalho, e trazer também as experiências e dividir aqui no nosso território”.
Reconhecida pela sua ousadia e força criadora, Emy Santos, artisticamente conhecida como Afro queer do Centro-Oeste, formada em artes cênicas licenciatura pela UEMS no ano de 2023, fundadora da coletiva De Trans Pra Frente – primeira coletiva formada somente por pessoas trans e travestis no estado de MS, desenvolvendo trabalhos e ações educacionais, artísticas e culturais. Ganhadora do Prêmio nacional pretas potências na categoria de artes cênicas (2023), premiada pelo edital federal Sérgio Mamberti como agente cultural LGBTQIAPN+ no Centro-Oeste, sendo a única travesti preta ter esse reconhecimento. Pesquisadora na área da arte, das questões interseccionais como: gênero, sexualidade e etnia racial a partir do corpo em movimento, faz parte do grupo de pesquisa Corpo Sendo (CNPQ). Atualmente faz parte do coletivo de artista ‘’grupo casa’’ como professora de teatro e provocadora corporal. É diretora e intérprete da cena do espetáculo Culto das travestis – 2024, uma proposta contemporânea que mistura arte e vida, evidenciando a potência da arte trans brasileira. Atualmente é professora da Rede Pública Municipal de Educação de Campo Grande.
Para Emy Santos, é importante que uma pessoa travesti negra como ela saia das estatísticas e ocupe lugares. “Porque por muito tempo travestis negras não ocuparam o lugar da educação, não ocuparam o lugar da arte, da cultura, sendo reconhecidas, tendo seu trabalho de alguma forma, sendo contemplado, sendo valorizado. É romper com o sistema que coloca constantemente pessoas trans na marginalidade, coloca pessoas trans na prostituição, nessa questão marginalizada. Então, romper essas barreiras é criar possibilidades tanto pra mim, mas tanto também para a história de muitas outras pessoas que se identificam com o meu trabalho, que se identificam comigo, que se identificam com o que eu faço e, acima de tudo, pessoas trans e travestis sendo humanizadas, sendo valorizadas pelo que são. E podendo representar, sim, Mato Grosso do Sul, podendo representar, sim, o Brasil. No Brasil, num festival como esse, numa programação como essa”, finaliza a artista.
Texto: Karina Lima
Fotos: Acervo da artista