Campo Grande (MS) – A equipe de advogados de defesa de Adélio Bispo de Oliveira, autor da facada ao então candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), em setembro de 2018, fez a primeira visita ao agressor após o encerramento do processo contra ele.
Quase ao fim da manhã da última sexta-feira (19), quatro defensores e o psiquiatra forense que acompanha o caso chegaram à Penitenciária Federal de Campo Grande para conversar com Adélio e apresentar a ele o teor da última decisão, que encerrou a ação que tramitava na 3° Vara Federal de Juiz de Fora (MG).
O advogado Zanone Júnior disse depois da visita, que durou cerca de uma hora e meia, que seu cliente permanecerá no presídio, conforme determinação judicial, porque “apresenta condições adequadas” para os cuidados que Adélio precisa.
“Unimos o útil ao necessário. Aqui temos a segurança que o Adélio precisa, levando em conta o panorama político e também a questão da higidez mental dele. Então, essa congruência de adequações nos dá resposta satisfatória nesses dois flancos: a segurança e o tratamento de Adélio”, afirmou.
Entretanto, caso seja verificada a necessidade de mudá-lo de espaço, isso será analisado dentro dos três anos em que o quadro do agressor, conforme decisão da Justiça, deve ser reavaliado. “Agora, ele é considerado de altíssima periculosidade”, afirma o defensor.
TRANSTORNO
Diagnosticado com Transtorno Delirante Persistente, o agressor de Bolsonaro deverá começar a tomar medicamentos da classe dos antipsicóticos e, caso não queira ser medicado, a medida será compulsória.
“Ele vai receber o tratamento, apesar de não aceitá-lo”, disse o psiquiatra forense contratado pela defesa, Hewdy Lobo. Ele explica que tal quadro provoca tanto delírio quanto alucinações, fazendo o portador perder a noção da realidade.
No entanto “o doente não se reconhece doente”, por isso, a resistência em tomar remédios. Assim, apesar da doença, “ele compreende o que falamos e a situação, mas não sabemos como ele interpreta”, defende Zanone, ao que Lobo complementa: “o entendimento dele pode ser distorcido, errôneo e doentio”.
Segundo os defensores, mesmo dentro de uma das Penitenciárias mais seguras do País, Adélio se sente perseguido. “Ele acredita que sofre perseguição por ter atentado contra a vida do presidente”, disse o advogado.
BOLSONARO
Sobre os advogados do presidente e o próprio Bolsonaro não terem insistido em entrar com recurso contra decisão anterior, que alegou Adélio como inimputável, do ponto de vista penal, devido a doença mental, Zanone afirmou que avalia a reação como um entendimento de que “a questão não é jurídica, é científica, é médica. E aí a política passa ao largo. Quando a ciência entra a emoção sai e a racionalidade fica”.
HONORÁRIOS
O advogado disse que está proibido, pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de dar declarações sobre quem banca os honorários da defesa. “Agora é a OAB me vetou. Vocês sabem que eu falo, mas agora não mais. Foram só aqueles R$ 5 mil”.
Por Lucia Morel