Durante três dias, entre quinta-feira (3) e sábado (5), o MIS (Museu da Imagem e do Som), no Memorial da Cultura “Apolônio de Carvalho”, em Campo Grande (MS), se transformou em espaço de diálogo e construção coletiva de imagem. A oficina “Fotografia, Memória e Arte – Narrativas Visuais”, ministrada pelo fotógrafo carioca Stefano Figalo, integrou a programação formativa do Campão Cultural 2025, promovido pelo Governo de Mato Grosso do Sul, por meio da FCMS (Fundação de Cultura) e Setesc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura).
Com abordagem centrada na fotografia como ferramenta de escuta, memória e construção simbólica, Figalo convidou os participantes a repensar o ato de fotografar. Além do ensino de técnicas, o fotógrafo propôs um mergulho em uma prática ética e sensível da imagem, na qual o olhar é carregado de memória e responsabilidade.
“A fotografia não é só configurar a câmera. É como a gente constrói nossas narrativas e como coloca sentimento na imagem”, explicou Figalo. Ele destacou que o curso foi inspirado em experiências acumuladas desde 2010, quando começou a ministrar aulas com o objetivo de compartilhar o conhecimento da forma que gostaria de tê-lo aprendido.
Participaram da oficina pessoas com diferentes níveis de experiência — de iniciantes a fotógrafos e artistas visuais. Todos foram provocados a refletir sobre a fotografia para além do equipamento: como linguagem acessível, memória afetiva e relação com o outro.
Descomplicar a técnica, valorizar o olhar
Ao longo da oficina, o conteúdo técnico foi apresentado com leveza, sem fórmulas rígidas. Figalo abordou fundamentos como fotometria, luz natural e cálculo de exposição, sempre com a intenção de desmistificar o processo e devolver autonomia criativa aos participantes. “A gente fez uma tabela de EVs à mão, entendendo como a luz funciona na prática. Isso te liberta para pensar na linguagem da imagem e não ficar refém do equipamento”, explicou.
Essa proposta também esteve presente na discussão sobre os dispositivos utilizados. Para o fotógrafo, boas imagens podem ser feitas com qualquer ferramenta — inclusive o celular. “A fotografia não é mais só da câmera. A questão é: o que você quer dizer com essa imagem? Que memória ela carrega?”, provocou.
Mais do que ensinar a fazer boas fotos, a oficina lançou perguntas. O que significa registrar a memória de alguém? Qual a responsabilidade de quem segura a câmera? “Uma participante comentou que as fotos mais emocionantes da sua família são aquelas feitas por parentes, não por profissionais. Isso diz muito sobre afeto e presença”, contou Figalo.
O encerramento da oficina foi marcado por uma atividade prática em estúdio, aliada a propostas de saídas fotográficas baseadas nas memórias pessoais dos participantes. “A ideia era que cada um trouxesse um pouco de sua história e cultura para a imagem, e não apenas seguisse fórmulas técnicas”, resumiu.
Trajetória de escuta e democratização da fotografia
Nascido no Rio de Janeiro (RJ), Stefano Figalo tem 48 anos e iniciou sua carreira como designer gráfico. Seu primeiro contato com a fotografia documental aconteceu por meio do trabalho de João Roberto Ripper, que o impactou profundamente. A virada veio em 2007, quando ingressou na Escola de Fotografia Popular do Observatório de Favelas da Maré, onde teve formação voltada à escuta, ao território e à fotografia como linguagem social e humanista.
Desde então, Figalo atua com oficinas comunitárias, projetos sociais e fotografia documental. “Minha praia sempre foi essa: usar o que se tem, descomplicar, democratizar. Fotografia é possibilidade. É sobre olhar para o outro e para si com mais cuidado”, afirma.
Lucas Castro, Comunicação Setesc
Fotos: Lucas Castro