Términos Inacabados – Episódio 13

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Términos Inacabados – Episódio 13

Episódio 13

Um médico habilidoso

 Jerusa andava com um canivete suiço na bolsa e discretamente (ela achava) abriu o ziper lateral para tentar alcança-lo.

‘Parece que você está tremendo querida’

Jerusa segurou com força o canivete, pressionou o botão de abertura automática e o segurou tão firme que sentiu sua pulsação na haste da lámina.

Ainda assim, conseguiu perguntar:

‘Queria saber sobre a edição do livro e se você afinal tem a carta do Machado’

‘Sim eu sei. O livro tenho aqui mas jamais o disponibilizarei, faz parte da minha coleção. A Carta, minha cara, considere segredo de Estado.’ 

Ficci trocou as feições. Ele agora realmente parecia fantasmagórico, um múltiplo. Apresentava faces diferentes. Mimicas estranhas.

“E mais isso? Que palhaçada é essa?” pensou Jerusa. 

E subitamente simulava ser afável.

Afastou-se a uma distância segura de Jerusa.

Ela largou o canivete, e sentiu que havia se ferido, e algum sangue molhou o couro lateral da bolsa.Ela tentou ocultar a mancha. 

Então respirou prologadamente, e se acalmou o suficiente para tentar parecer normal.

Jerusa então cogitou:

“Quantas pessoas cometem atos extremos por medos infundados, pura paranóia ou tentanto antecipar hostilidades imaginárias? Há segundos atrás eu estava disposta a matar para me defender. Me defender do que? De quem? De um psicótico? Por que tanto medo de alguém que, mesmo assutador, tinha no minimo o triplo da minha idade. Quanto de nosso sofrimento mental provém desse recesso que ignoramos, das memórias traumáticas? Não, no meu caso nada de memórias traumáticas. Imagino que essa sensação nasce de uma necessidade de estar protegida. Braz ter simplesmente abandonado a relação, a distância da familia, minha preferência por alienação, quietude, meu hábito notívago, minha aversão à futilidade, às palavras vazias. E, no entanto, fui fazer o que da vida? Trabalhar em marketing político. Fazer campanhas para quem faz o que faz contra a população? Que incoerência Jerusa! Braz tinha razão quando me chamava de incoerente. Aliás ele tinha razão em muitas coisas, mas afinal era ele o homem fraco. Tão fraco que não conseguia me enfrentar. Teria ele pego os diários para me chantagear?”   

Jerusa então despertou para o ambiente para ser mais incisiva com Ficci:

‘Então, o que você pode fazer por mim? Pode fazer uma copia? Me emprestar?’

‘Não pretendo, estudo a vida dele há anos. Mas posso fazer algo bem mais interessante.

Ficci notara que Jerusa mantinha uma mão dentro de um compartimento da bolsa. Ele já havia detectado o sangue.

‘Você se cortou? Antes vamos cuidar de seu ferimento. E numa velocidade impressionante colocou em frente dela uma caixa de primeiro socorros aberta.’

Jerusa temeu mais uma vez.

‘Moça, fique tranquila, não parece, mas sou inofensivo.’

‘Deixe-me ver sua mão.’

Jerusa hesitou.

Ele sentou-se em frente dela numa banqueta e delicadamente ajudou a retirar a mão dela da bolsa. Ela resistiu, porém deixou que ele conduzisse a operação.

‘Um belo corte. Vamos higienizar primeiro e depois colocar uma proteção. Deixe-me ver. Tenho aqui um gaze e micropor. Depois arnica e própolis.  

Jerusa tentou recolher a mão.

‘Não se preocupe, já fui um médico habilidoso.’

‘Médico?’ Jerusa não conteve o espanto. 

‘Pronto, a hemorragia está sob controle’ Num raro consenso ela e Ficci e entreolharam e sorriram! 

Neste momento o celular de Jerusa vibrou e a tela se iluminou. 

Ela o levou para perto e olhou.

Sua pupila ficou minuscula. E Jerusa levou a mão à boca com quem precisa se calar sobre algo impensável que só pode acontecer com os outros. 

Valha-me Céus!!

Continua

Fonte: gente.ig.com.br

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