Términos Inacabados – Episódio  14

0
Términos Inacabados – Episódio  14

 Episódio 14 – Términos Inacabados

O inacreditavel é o que voce nunca ousou imaginar.

Jerusa ficou pálida.

“Cara Jerusa, aqui é o Afanes, só para adiantar que você está em risco e eu sou parcialmente culpado por te colocar nessa situação.”

Ela ficou atônita, mas ignorou a confissão de Afanes e voltou-se novamente para olhar nos olhos brilhantes de Ficci.”

Primeiro replicou com mensagem de texto. Depois tentou ligar de volta para Afanes várias vezes. Ela lembrou da frase do analista “com angústia não se brinca”, neste caso a angústia fazia malabarismos em sua cabeça.

Ele queria falar algo. Expressar seu desconforto. Já o choro, o choro era mais dificil.

Desde que se separou ela simpesmente decidiu abolir o choro. Ela imaginava que era a esta a fragilidade aparente que ajudou a construiir o mito da mulher frágil, sem força, e estava cansada do mito de manteiga derretida que a acompanhou em boa parte da infância e adolescência. E sua decisão teve efeito. Foi algo instantâneo, suas lágrimas secaram a tal ponto que ela comecou a sentir uma irritação crônica nos olhos.

‘Houve algum problema?, Ficci tentou especular testemunhando a abulia de Jerusa.

‘Ah, sinto, quer ajuda? Posso chamar uma taxi? Um uber. Quer  carona?’

‘Preciso de sal’

‘Sal?’

‘Acucar? Açucar foi o que você quis dizer!’

‘Sal, um pouco de agua com sal. Por favor.

‘Voce precisa de açucar menina’

Jerusa destestava ser chamada de menina, querida, moça, e todos os tratamentos que julgava depreciativos, petulantes, machistas, reducionistas, mas naquele momento era como ela se sentia. Ela aceitou sem contestar e replicou:

‘Você não me conhece, melhoro só com cloreto de sódio. Não fico bem com açucar. Pioro com açucar. Como médico Dr. o Sr. deveria prestar mais atenção às idiossincrasias das pessoas’

‘Nunca ouvi falar e aceito a critica’ E Ficci foi se afasatando de ré para pegar um copo e derramar sal nele.

Ele a serviu, e ela entornou o copo saturado que desceu ardendo em sua garganta!

‘Preciso ir. Mas antes, o Sr. tem que me dizer se vai me vender ou não?

Jerusa tentou mais uma vez enviar uma mensagem respondendo para Afanes. Inútil.

Ela se conformou o murumorou internamente: Talvez Afanes nem responda.  

‘Se você já está em condições, siga-me!’ Ordenou Ficci

E saiu em direcao ao corredor convidando Jerusa para segui-lo. Foram alguns minutos caminhando.

A casa não pode ser tão longa, Jerusa calculou.

E seguiu-se uma longa descida pelas escadas mal iluminadas. Escadas torturosas, infinitas. Primeiro um corrimão de ferro. Depois vários degraus artesanais. E, enfim, uma espécie de porão gigantesco.

Os livros estavam impecavelmente dispostos. Havia um cheiro de mofo forte ainda que tudo estivesse muito limpo.

‘O que é isso? É um sebo oculto? Ou o Sr. assaltou o museu nacional? Já sei, roubou uma biblioteca ou fez como Sylvestre Bonnard, e montou o acervo com livros emprestados nunca devolvidos?’

‘Não. Boa parte pertenceu ao Machado. Ele morou aqui. Nesta casa’

‘Machado? Machado de Assis?’

 ‘Ele mesmo. Em carne e espírito’

‘Mas como ninguém soube disso? É inacreditavel’

‘O inacreditavel é o que você nunca ousou imaginar’.

Continua

Fonte: gente.ig.com.br

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui