Términos inacabados – Episódio 18

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Términos inacabados – Episódio 18

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Téminos Inacabados – Episódio 18

O irresistível magnetismo dos idiotas.

‘Consegue levantar Jerusa? Posso te ajudar, apoie aqui’

Jerusa dispensou a ajuda e pensou: “se for o apoio que tenho recebido dos homens é o tipo de apoio que chamo de areia movediça portátil. O apoio que submerge o sujeito, aquele que faz a pessoa afundar na lama eterna.”

‘Não Precisa. Só para confirmar, sua última frase foi mesmo: você desencadeou tudo isso? Ou alucinei, fruto do meu mal estar vertiginoso?’ 

Ficci manteve o olhar parado como se estivesse esperando uma oportunidade para agir.

Jerusa, sabia, ela precisava reagir.

 ‘Me sinto um pouco melhor, obrigado. Quer dizer que eu é que desencadiei tudo isso? As ameaças. A cilada que cai vindo aqui? A hipocrisia de seu sócio Afanes, e agora o acidente de Braz? Por favor, ainda  estou tonta mas não cheguei ao status de idiota.’

E complementou baixinho:

‘Não falta muito’

 ‘Quer que eu grite? Me tira daqui cacete. E de novo voltou a cogitar em tentar subir e pegar seu estilete. Um furador, um abridor de lata da aba lateral seria suficiente para abrir caminho.’

Jerusa tinha fantasias violentas muito antes de estar se sentindo encurralada na casa de Ficci. Lembrou de um episódio quando entrou na faculdade. Puxou uma chave de fenda para uma veterana que queria lhe impor um trote violento.

‘Me ouça apenas um minuto?  Ficci sugeriu. ‘Lhe peço só um minuto e você poderá, talvez, compreender. Até agora você não me deixou terminar uma frase.’

Jerusa silenciou e ele interpretou como consentimento.

‘Existe uma sociedade de fanáticos que venera Machado’

‘Normal, e quem não venera, ele é genial.’

E evocou para si as anotações do seu diário:

“Como ele consegue se colocar no papel feminino de um jeito tão verdadeiro? É isso, é provável que tenha tido alguma vivência muito intensa e traumática com as mulheres da familia. Mas…ao mesmo tempo – ou foi exatamente por isso ? — como ele pode escrever o infame ‘A queda que as mulheres tem pelos tolos’, ou, na linguagem de nossos dias ‘A mulherada adora os cafajestes’. Não bate. Simplesmente não bate.”

‘Não este tipo de sociedade, mas uma egregora’ emendou Ficci ‘Sabe o que significa?’

‘Você diz uma… sabe, seita?’

‘Sociedade Secreta, seita, confraria, pode chamar de como você quiser.’

‘Ah sei, escritores frustrados saem matando quem critica o mestre’  Jerusa se inclina batendo as mãos na perna.’

Ficci fica inerte, apenas observando.

‘Você está de brincadeira, só pode. Boa essa hahaha’

Jerusa sorriu usando apenas a mandibula, um velho tique.  Era sem muita convicção, exatamente porque cogitou o quanto de verdade haveria alguma verdade naquilo.

“E se não fosse uma estultice, e se ele estivesse falando sério? Um bando de cultuadores idólatras protegendo a honra do Machadinho.” pensou

‘Bom, é um modo de enxergar, o que sei é que eles são defensores da honra do Machado.’

‘E estão dispostos a tudo’ Ficci complementou.

‘Só pode ser uma piada! Quem é que preside, é o Doc Ruas? Aquele que saiu livre depois de matar aquela moça coitada lá de Minas?’ E emitiu um riso abafado.

‘Pode parecer absurdo, ridiculo, mas real Jerusa. São organizados, poderosos, dominam e presidem instituições. E sendo bem direto, sim, eles podem’

Ficci teve algum pressentimento ruim e parou de falar como se ouvisse algo.

‘Nos destruir?’

Ficci fez que sim com a cabeça.  

‘Olha aqui Dr. Ficci eu preciso mesmo ir, já me sinto um pouco melhor, pode por favor chamar um taxi? Vou direto para o hospital. Preciso ver o Braz’

Ficci ignorou a demanda de Jerusa. Afinal ele conhecia um pouco da história da relação dela com Braz relatada por Afanes.

Ficci então pensou. 

“O sujeito foi desleal, sacana, roubou os diários dela, prejudicou-a financeiramente, chegou a intimida-la depois da separação, mas ela depois de passar mal e quase desmaiar gritava:  “preciso ver o Braz.” Há um enigma aqui. O que faz com que as mulheres tratem seus carrascos como heróis? Não consigo mesmo entender, talvez Machado afinal tenha razão sobre o irresistível magnetismo dos idiotas.”

Continua

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Fonte: gente.ig.com.br

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