Testemunha-chave da defesa diz que foi coagida por policiais; Marcelo Rios chora

0
177
Testemunha-chave da defesa diz que foi coagida por policiais; Marcelo Rios chora

Eliane Benites Batalha dos Santos, ex-esposa de Marcelo Rios, presta depoimento, na tarde desta terça-feira (18), no júri que investiga a morte de Matheus Coutinho Xavier, 17 anos. Ela é considerada testemunha-chave para a defesa, pois denunciou suposta organização criminosa e, posteriormente, disse que foi coagida pelos investigadores.

Márcio Vidal, advogado de Jamil Name Filho, questionou se Eliane foi ouvida no Garras, ao que ela afirmou que sim, quando seu ex-marido foi preso, e que isso teria acontecido em um fim de semana. Na ocasião, Rios foi flagrado com um arsenal de armas de grosso calibre.

Naquela data, a casa da família teria sido vistoriada pela polícia. Segundo Eliane, os policiais a informaram que ela estava sendo presa. No entanto, o interrogatório foi realizado devido ao seu ex-marido, sobre sua vida e ações.

Eliane alega que estava sem telefone e que um homem se apresentou como advogado de seu então marido, que ela autorizou que a acompanhasse durante o interrogatório.

A testemunha afirma, ainda, que a polícia a buscou em casa em um carro descaracterizado, dizendo que ela precisava ir à delegacia porque Marcelo queria falar com ela e que temiam pela vida dela.

Inicialmente, ela conversou com o ex-marido, que estava desesperado, pois os policiais disseram que a família seria alvo de criminosos.

Em outro trecho do depoimento, a testemunha afirma que foi abordada em casa por homens em um carro branco. Ao abrir o portão, uma pessoa a mandou olhar para baixo e afirmou que sua cabeça estava a prêmio, que caso algo acontecesse, ela teria a cabeça arrancada. O homem parecia ser mais alto que seu marido.

Apoiando a teoria da defesa, Eliane acredita que foram os próprios policiais que a visitaram em casa para fazer ameaças, fazendo-a acreditar que seriam membros da organização criminosa. Ela afirma que reconheceu um dos agentes pela estatura e pelas botas que ele usava na delegacia, que eram iguais às do homem que a ameaçou anteriormente.

Eliane complementa que a casa de sua mãe foi invadida por policiais, que apontaram fuzis para o rosto de sua mãe e de seu pai. Quando foi ao Garras com os filhos, disse que acreditou na alegação de que corriam risco de morte.

Questionada sobre possível pagamento para mudar o testemunho, a mulher rebateu que foi ao banco com uma pessoa lidada à família Name porque precisava pagar uma conta e recebeu o dinheiro pelo trabalho de Marcelo. Ela diz que recebeu R$ 500 na ocasião e que o restante foi empenhorado para pagar uma corrente que o ex-guarda havia comprado (Ele recebia R$ 625/semanal).

Ao júri, Eliane afirmou que o ex-marido trabalhava para os Name, na casa de Jamil Name, além de atuar como guarda municipal e em um mercado. Naquela época, ela não trabalhava fora.

Voltando ao dia em que denunciou suposta quadrilha, no Garras, Eliane alega que o delegado riu quando ela contou que havia sido ameaçada na noite anterior e disse que já sabia, o que ela achou estranho porque não havia contado a ninguém.

Eliane afirmou que, à época, seus filhos tinham 5 e 7 anos. Ela confirmou que recebeu a oferta para participar do Programa de Proteção a Testemunhas (PPT), com a afirmação de que, se ela saísse da delegacia, ela e os filhos poderiam ser alvos de criminosos e ter suas cabeças arrancadas.

A mulher diz, inclusive, que não pode ler o depoimento que assinou, dando a entender que a polícia forjou a denúncia. Eliane comentou que tentou ler o documento, mas o policial não permitiu, dizendo que havia um preso chegando e que depois dariam a ela uma cópia, exigindo que ela apenas assinasse os papéis. Ela afirma que pediu novamente para ler o documento, mas os agentes disseram que não era necessário.

A testemunha dá a entender que os policiais fizeram “terror psicológico” com as crianças, e se emociona ao afirmar que os agentes disseram a seus filhos que “se a mamãe fizesse o que os policiais queriam, eles (as crianças) ficariam com ela. Mas se ela não fizesse, eles (os policiais) já tinham falado com um abrigo que levaria as crianças”, o que deixou os filhos do casal desesperados.

Policiais a levaram em casa para buscar roupas para si e seus filhos em viaturas da polícia. Segundo ela, as crianças ficaram em péssimo estado, sujos de urina e fezes, implorando para ir embora.

A defesa de Marcelo Rios considera o depoimento de Eliane como uma “bala de prata”, capaz de provocar uma reviravolta no caso, atribuindo à polícia o ônus de supostamente forjar provas.

Eliane afirma que nunca disse que Marcelo estava com a cabeça a prêmio por contratar os mesmos pistoleiros de sempre.

Sobre mudar a versão dos depoimentos anteriores, Eliane afirma que fez tudo pelos filhos, que assumiria crimes jamais cometidos para salvá-los.
Ela afirma que a justiça não intercedeu por seus filhos. Que ela e as crianças foram ameaçadas, e que não poderia mais continuar com uma mentira, dita por ela sob orientação dos delegados, com o intuito de salvar suas crianças, posto que o pai estava preso e – segundo Eliane – sendo torturado.

Ela afirma que quem deveria protegê-la, e a seus filhos e a população, foi a primeira a mentir e enganar. Chorando, Eliane afirma que os policiais afirmaram que iriam atingi-la em seu ponto mais fraco, que eram os filhos. Marcelo Rios também caiu em lágrimas durante o depoimento.

O caso

Jamil Name Filho, Vladenilson Daniel Olmedo e Marcelo Rios são julgados como mandantes da morte de Matheus Xavier Coutinho, 17 anos. Ele teria sido assassinado por engano, no lugar do pai, o ex-policial militar Paulo Roberto Xavier.

Juanil Miranda Lima e José Moreira Freires, o Zezinho, seriam os executores do plano. A briga entre a família Name e Paulo Xavier, também conhecido como PX, ocorreu porque o ex-policial trabalhava para os acusados, mas depois foi fazer segurança para o advogado Antônio Augusto.

A família Name, então liderada por Jamil Name, falecido aos 82 anos, teria rixa com Antônio Augusto por conta da titularidade da Fazenda Figueira, em Bodoquena, que tem alto valor financeiro. Ele fez a transferência da propriedade para Associação das Famílias para Unificação da Paz Mundial.

PX chegou a dizer que foi intimado a deixar a cidade antes da morte de Matheus, por ter se tornado inimigo do clã Name. Durante a investigação, os policiais descobriram que um técnico de informática atuou como ”hacker” e ajudou a monitorar Paulo Roberto em tempo real por vários dias.

No final da tarde de 9 de abril de 2019, os executores viram uma caminhonete S-10 sair da garagem da casa e abriram fogo, inclusive com uma metralhadora AK-47. Ao invés do pai, Matheus dirigia o veículo para buscar o irmão na escola.

O rapaz foi baleado e socorrido por Paulo Roberto. Ele viu uma equipe do Corpo de Bombeiros atendendo um acidente de trânsito na Avenida Mato Grosso e gritou por socorro. Matheus foi levado para a Santa Casa, mas não resistiu.

Mais três réus deveriam participar do julgamento. Jamilson Name, que morreu no Presídio Federal de Mossoró, RN, por problemas de saúde, e Zezinho, que faleceu em confronto policial. Juanil é considerado foragido.

A acusação é formada pelos promotores Luciana do Amaral Rabelo, Moisés Casarotto, Gerson Eduardo de Araújo e Douglas Oldegardo. Mãe de Matheus, a advogada Cristiane Almeida Coutinho atua como assistente de acusação no processo.



Fonte: Top Mídia News