Perder alguém da família é muitas vezes insuperável. Especialmente, quando a morte é prematura e em razão da violência. Além da dor, famílias das vítimas tentam explicações sem respostas para tamanha crueldade que deixou o vazio em seus corações. Mais difícil, ainda, é saber que o responsável pelo assassinato, muitas vezes de um pai de família, é um jovem que, ao invés de segurar um lápis ostenta arma.
Dados da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) mostram que homicídio é a terceira maior causa de apreensão de adolescentes em Mato Grosso do Sul. Atualmente, existem 189 infratores apreendidos nas seis Unidades Educacionais de Internação (Uneis) do Estado, e 31 deles cumprem medidas socioeducativas por esta razão. Oito, estão internados em Campo Grande.
Titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente, Ariene Murad associa o índice a recrutamentos de facções criminosas. “Cada vez mais são aliciados e passam a integrar facções porque têm na cabeça a ilusão do status. De que fazer parte de grupos criminosos representa poder. Muitos participam de tribunais do crime, onde se envolvem na morte de pessoas a mando de chefões ou matam em consequência de outros atos. Além disso, esses jovens fazem parte de um perfil com famílias desestruturadas, com dificuldades financeiras e são usuários de drogas”, explica a autoridade policial.
Entre os casos de grande repercussão, está o do taxista Luciano Barbosa, 44 anos, morto durante roubo, no dia 25 de abril. Garoto, de 17 anos, e mais duas jovens teriam planejado o crime durante uma festa. Luciano foi atraído por aplicativo por uma das mulheres que seria suposta cliente, mas acabou assassinado pelo adolescente com tiro na cabeça. Chegaram a levar o carro da vítima, mas o veículo logo foi achado, abandonado. O menor infrator, segundo a polícia, há cerca de um mês antes havia deixado Unei e já teve participação em outro assassinato. Ele foi encontrado e segue apreendido.

Roubo lidera ranking
Estatísticas da Sejusp mostram o roubo como maior responsável pela apreensão de adolescentes. No Estado, são 48 apreendidos. Recentemente, o lado se inverteu e o infrator, de 17 anos, é que acabou morto ao assaltar um delegado na Capital. O jovem estava com um comparsa que conseguiu fugir sem levar nada.
Por fim, o tráfico de drogas ocupa a segunda colocação. São 36 apreendidos. A delegada titular da Deaij reforça que esse número também se deve ao envolvimento de organizações criminosas. “Traficantes que entendem de lei, cada vez mais estão cooptando menores de idade. Sabem que se o ato não é cometido com violência, não resulta em prisão, por isso a preferência pela faixa etária”, destaca Ariene Murad.
Laura Holsback